As práticas neoliberais invadiram a gramática dos laços sociais, provocando o esgotamento da imaginação e a diminuição das perspectivas políticas em diferentes esferas da vida individual e coletiva. A solidez do futuro parece ter se desmanchado no ar. Nesse contexto, Mark Fisher formula o conceito de realismo capitalista: uma constelação ideológica produzida pelo neoliberalismo, responsável por um tipo de infertilidade imaginativa que provoca a sensação de um lento cancelamento do futuro.
Este dossiê propõe entender os danos da dissolução das condições de vida no planeta, questionando como assombrar o realismo capitalista. Renovar a esperança, própria à função política da imaginação e dos sonhos, é um modo de organizar o pessimismo e apostar na possibilidade de futuros inventivos. Que ações poderiam abrir novas possibilidades para lidar com as fraturas do nosso tempo social?
E mais: a volta ao debate público de categorias como “violenta emoção” para justificar casos de feminicídio não somente mostra como argumentos jurídicos do século 19 têm longa duração histórica como também indica que as lutas pela efetiva aplicação das leis de defesa das mulheres são, mais do que nunca, de grande atualidade.
Coordenado por Patrícia Valim, o especial “Dos crimes da paixão ao feminicídio” reúne histórias e reflexões sobre as desigualdades e discriminações que concorrem para a naturalização das altas taxas de violência doméstica e feminicídios no Brasil. Trata-se, sobretudo, de resgatar a humanidade dessas mulheres.
Completam esta edição o texto “Prótese do dentro”, na coluna da filósofa Marcia Tiburi e o poema “Quase”, de Karine Padilha na sessão Oficina Literária.
entrevista | O moto-contínuo do teatro
por Welington Andrade e Carolina Azevedo
dossiê | O lento cancelamento do futuro
org. Rose Gurski
Como será viver sem futuro?
por Marcelo Ricardo Pereira
“O futuro não é mais como era antigamente”
por Aléxia Bretas
Como assombrar o realismo capitalista?
por Bárbara Dias
Para uma crítica da economia política do futuro cancelado
por Daniel Feldmann
especial | Dos crimes da paixão ao feminicídio
org. Patrícia Valim
Régua e compasso: O julgamento do assassinato de Júlia Clara Fetal em Salvador, 1847
por Patrícia Valim
“Quem ama não mata”
por Miriam Grossi
Da ameaça ao feminicídio: Sentimentos de posse e desprezo sob as vestes de crime passional
por Mariana Kotscho e Valéria Scarance
Os 18 anos da lei que leva meu nome
por Maria da Penha Maia Fernandes
coluna | Prótese do dentro
por Marcia Tiburi
oficina literária | Quase
por Karine Padilha
